Foi isso que Vinteuil fizera pela pequena frase. Swann achou que o compositor se contentara (com os instrumentos a sua disposição) em desvelá-la, dar-lhe visibilidade, acompanhando e respeitando seus contornos com uma mão tão amorosa, tão prudente, tão delicada e tão segura, que o som se alterava a todo momento, embotando-se para indicar uma sombra, reavivando-se de repente quando precisava acompanhar o contorno de uma projeção mais ousada. E uma prova de que Swann não estava errado quando acreditava na existência real desta frase era que quem quer que tivesse um ouvido musical requintado detectaria de imediato a impostura, tivesse Vinteuil, dotado de menos capacidade de ver e transmitir suas formas, procurando dissimular (acrescentando, aqui e ali, uma linha de sua invenção) a imprecisão de sua visão ou a fraqueza de sua mão.
Marcel Proust
0 Comments to "No caminho de Swann"